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Analistas refazem projeção da Selic para 11,5% este ano

Política monetária: Nova aposta segue visão do BC de inflação comportada

Autor: Edna SimãoFonte: Valor EconômicoTags: juros

Os analistas e economistas ainda correm para acertar suas projeções aos últimos movimentos do Banco Central. No Boletim Focus, divulgado ontem, a mediana das estimativas para a Selic no fim do ano voltaram a cair, de 11,75%, para 11,5% ao ano. A nova aposta embute um aumento de 0,5 ponto na reunião do dia 1º de setembro e mais um ajuste de 0,25 ponto em outubro, permanecendo nesse patamar até janeiro de 2011.

A correção segue a mudança de visão do cenário inflacionário feito pela autoridade monetária tanto no comunicação da decisão do Copom quanto na ata, publicada na última quinta-feira. Enquanto os analistas esperavam duas elevações de 0,75 pontos percentuais, o BC promoveu uma mudança no ciclo de aperto, com uma alta menor, de 0,5 ponto, e sinalizações de que a contração monetária poderia estar perto do fim.

As expectativas do mercado, um dos pilares do sistema de metas, andaram mais devagar do que o BC. Mas nem todos estavam atrás da curva. No mercado de juros futuros da BM&FBovespa, os tesoureiros, responsáveis por colocar em prática as estratégias dos bancos e dos fundos de investimentos, já tinham alterado suas posições, esperando um aperto mais curto do que o previsto inicialmente.

Esses mesmo agentes apostam agora em estabilidade da taxa na próxima reunião do Copom, ou apenas mais uma elevação, de 0,25 ponto percentual, levando a Selic para 11% ao ano até dezembro. Segundo Eduardo Velho, economista-chefe do Banco Prosper, a estrutura a termo da taxa de juros voltou a registrar reforço, no fim da semana passada, na expectativa do Copom de não conceder novo aumento da taxa básica de juros. Na sexta-feira, a curva "precificava" um aumento de 0,18 ponto. "Com os comunicados recentes prejudicados pela sinalização da decisão, avaliamos que a autoridade monetária deverá manter a meta Selic em 10,75%", disse, em relatório.

Para ele, no entanto, o BC deveria continuar subindo a taxa até que a inflação começasse a convergir para o centro da meta, de 4,5%. "Nossa opção seria pelo ajuste total no espaço curto de tempo, sem deixar incertezas quanto a novos ajustes no médio prazo."

Ao contrário do BC, os analistas continuam vendo riscos elevados para o cenário inflacionário futuro. O IPCA esperado para este ano caiu para 5,27%, mas para 2011, horizonte relevante para a política monetária, continua estabilizado em 4,8%, acima do centro da meta, há 16 semanas.

Para o Santander, o destaque da pesquisa Focus foi justamente o fato de a expectativa para a inflação nos próximos 12 meses ter apresentado alta para todos os indicadores pesquisados. O IPCA esperado para os próximos doze meses subiu para 4,97%, vindo de 4,93% na semana anterior e de 4,86% um mês atrás. "Esse resultado reforça nossa visão de que a desaceleração da inflação é um fenômeno de curto prazo apenas", diz a equipe econômica do banco espanhol.

No fim desta semana será divulgado o IPCA do mês de julho, com estimativas apontando novamente para estabilidade dos preços, pelo segundo mês consecutivo. "Resta saber se a trajetória da inflação continuará convergente ao objetivo, passado o momento favorável para os preços de alimentos e o efeito da acomodação da atividade econômica no segundo trimestre", diz o Santander.

Para a equipe econômica do Bradesco, uma das poucas a ajustar a previsão para a alta da Selic para 0,5 antes da efetiva decisão do Copom, "os dados são soberanos" e justificam a atuação do BC. "Temporária ou não, houve uma desaceleração da atividade e da inflação não antecipada pela maioria dos economistas, nós incluídos, nos últimos quatro meses. A comunicação em política monetária é um instrumento de convergência das expectativas e de coordenação dos mercados, mas ela não pode ser substituta da observação atenta da economia real", diz relatório do banco.

Em outras palavras, afirma o Bradesco, "a combinação da desaceleração global e doméstica com rápida queda da inflação no Brasil e no mundo nos últimos meses é poderosa o suficiente para justificar uma mudança no ritmo de elevação dos juros, sem que o BC tenha que, para isso, comunicar previamente."