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Desemprego é o menor desde 2002
Criação de vagas com carteira assinada, porém, tem forte desaceleração por conta do ritmo fraco da indústria, afetada pela crise mundial NotíciaGráfico
O Brasil gerou 139,6 mil postos de trabalho formais no mês passado, quantidade 44,5% inferior ao resultado de igual período de 2011, quando foram criadas 252 mil vagas com carteira assinada. Os números são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho. Apesar do tombo, as contratações contribuíram para a queda de 0,6 ponto percentual na taxa de desocupação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que ficou em 5,8% — menor índice para os meses de maio desde o início da série histórica, em 2002.
No entender de Aurélio Bicalho, economista do Itaú-Unibanco, os números mostram um mercado de trabalho ainda aquecido, mas que corre o risco de perder o fôlego se não houver uma aceleração consistente da atividade econômica nos próximos meses. Enquanto o comércio e os serviços foram os principais responsáveis pela geração de empregos, com saldo de 54,3 mil vagas, a indústria apresentou sinais de fragilidade, com apenas 20,3 mil postos de trabalho criados no mês passado, menos da metade do que os 42,3 mil registrados em maio de 2011.
Caio Machado, analista da Consultoria LCA, pondera que o resultado da indústria só não foi pior graças ao bom desempenho de segmentos ligados à renda dos trabalhadores, como alimentos, bebidas e vestuário. "Apesar da estagnação econômica, o consumo das famílias ainda está crescendo, o que ajuda a sustentar os empregos", explicou. Dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE mostram que a massa de rendimento da população ocupada nas principais regiões metropolitanas do país ficou em R$ 40 bilhões, um crescimento de 7,5% na comparação com maio de 2011.
Direitos
O bom desempenho do setor de serviços foi fundamental para Larissa Gonçalves, 28 anos, conquistar o primeiro emprego com carteira assinada. Ela trabalha como atendente de telemarketing em uma empresa privada do Distrito Federal e vai ganhar R$ 622 por mês. "Fiquei contente, porque agora sei que vou ter os meus direitos garantidos", comemorou. O próximo passo de Larissa é organizar o orçamento para investir em preparatórios para concursos públicos. "Com o salário fixo, fica mais fácil planejar. A prioridade vai ser os estudos."
Após ter ficado seis meses desempregado, José Maria dos Santos, 37 anos, conseguiu um emprego para atuar como vigilante. Com a renda de R$ 1,2 mil por mês, ele passou a auxiliar nas despesas da casa onde mora com a mãe e a realimentar o ciclo de consumo que está ajudando a gerar postos de trabalho e aumento de renda no país. "A situação financeira estava muito complicada. Agora, tenho dinheiro para comprar as coisas", disse.
Mas não foi só o consumo que ajudou a manter os empregos. O alto custo para demissão no país levou os empresários a segurar empregados, mesmo que isso signifique queda na produtividade do funcionário com menos horas trabalhadas. Ao manter os trabalhadores nas fábricas, as empresas apostam na retomada do crescimento econômico nos próximos meses. Assim, não precisarão recompor os quadros em um momento de alta dos salários resultante da escassez de mão de obra. "Há expectativa de que o pacote de medidas adotado pelo governo para estimular a economia surtirá efeito a partir do segundo semestre", diz Fernanda Consorte, economista do Banco Santander.
Apesar do fraco desempenho da indústria, o diretor de operações do grupo farmacêutico Cimed, Oscar Teixeira Basto Júnior, acredita que o momento é favorável para expansão e pretende manter o cronograma de contratações. Ele revelou que a Cimed vai investir R$ 2 milhões na abertura de dois Centros de Distribuição, um no Distrito Federal e outro no Mato Grosso, além de abrir 35 vagas. "No nosso segmento não há crise alguma, pelo contrário o momento é de crescimento."
Os analistas são unânimes, entretanto, ao avisar que se a economia não voltar a crescer, e rápido, certamente a taxa de desocupação voltará a subir, por isso há tanta preocupação. Rafael Bacciotti, analista da consultoria Tendências, explica que há uma defasagem entre o início da estagnação econômica e seus efeitos sobre o mercado de trabalho, que, por enquanto, ainda não foi afetado. Bacciotti observa ainda que indicadores como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), cuja prévia para junho ficou em 0,18% — menor resultado desde 2006 —, sinalizam para uma redução do consumo nos próximos meses. "Isso pode levar a uma ligeira alta na taxa de desocupação no segundo semestre", sustentou.
» A força do campo
A agricultura também se destacou na geração de empregos em maio. O dinamismo do setor foi associado a fatores sazonais na região Sudeste, como o cultivo de café — com saldo de 25,9 mil postos, e de cana-de-açúcar — com 12,2 mil novos postos. Na indústria de transformação, os desempenhos positivos foram registrados no segmento de produtos alimentícios, que criou 17,8 mil vagas com carteira assinada, e na indústria química, que gerou 6,7 mil empregos